Sem dúvida o momento que estamos vivendo é de turbulência e pleno de perplexidades. A política e seus derivados, economia, segurança, saúde, educação, legislação, dentre outras, estão em constante processo de mutação que nos faz incapazes de entender "o que" e o "porquê" está acontecendo.
Alguns, o que para mim é natural, ficam boquiabertos de perplexidade com declarações que à toda evidência contrariam as normas sociais de convivência pacífica, como, por exemplo, aquela atribuída a um magistrado, que teria dito ter "atropelado a letra fria da lei" ou o declarado por um general de pijama de que "os problemas do Brasil decorrem da indolência do índio e da malandragem do negro". Mas, o que parece inverossímil, há um percentual considerável da sociedade que acolhe e replica declarações como estas como sendo absolutamente naturais. No fim, fica o dito, por absurdo que seja admitido por uns e rechaçado por outros conforme seus interesses, colaborando para uma sociedade dividida e sem norte.
É neste ambiente de anomia, em que indivíduos se sentem incitados a violar as normas para poder alcançar suas metas, que estamos navegando e teremos de escolher aqueles que irão nos governar (?) a partir de 1º de janeiro do ano que vem.
De certa forma, isso explica os extremismos que se mostram fortes hoje em dia. Reemerge, por exemplo, o racismo, a homofobia, o machismo, o anticomunismo, a desconsideração de direitos humanos para grupos de pessoas, isto é, ressurge a preferência pelas ideias consideradas de extrema direita adotadas pelos regimes nazifascistas do século passado. Por outro lado, ressurgem ideias ancoradas no mais puro populismo, que se caracteriza por buscar o apoio popular, principalmente das classes menos favorecidas. O populista usa um discurso simples, carismático e dispensa partido político. Apresenta-se como o "salvador da pátria", sem um programa definido e, para isso, deslegitima as instituições democráticas.
A história é uma descrição literal de eventos passados e o tipo de descrição feita a posteriori pode não fazer muito sentido para aqueles que estavam presentes naquele momento histórico descrito. O que determina os acontecimentos são uma série de causas acidentais e/ou intencionais (nada especificamente), que só podem ser examinadas com atenção no futuro, porque no momento estamos todos envolvidos (consciente ou inconscientemente) naquilo que irá resultar no porvir.
Não podemos explicar o que está acontecendo e o porquê está acontecendo. Neste momento, cada um a sua maneira, participa de um conflito complexo que somente poderá ser explicado quando se transformar em passado e as paixões tiverem se arrefecido. O Brasil está inexplicável, mas não estamos sozinhos. O mundo inteiro está desnorteado.
O senso comum que não reflete sobre o mundo apenas reproduz frases e conceitos que se adequam aos seus interesses, colabora para esta desorientação. O antídoto é o senso crítico, questionar e analisar de formar racional e inteligente os fatos que nos são apresentados. O voto de hoje resultará no que teremos no futuro.
O cardápio de candidatos não é "uma Brastemp", entretanto, um mínimo de senso crítico mostra os completamente descartáveis. Só o censo crítico pode garantir alguma racionalidade nesta confusão. É através do senso crítico, do exame racional e desapaixonado dos acontecimentos.